Não sei quando foi que começou essa onda de "Gourmetização", mas de uns tempos pra cá, nada é simples ou comum. Parece que o básico ficou ultrapassado e deu lugar ao "mais e mais".
Não se faz mais tapioca, se faz "crepioca".
Não se come mais feijoada com orelha, pé e rabinho de porco. Se come feijoada gourmet, com sei lá o que dentro do feijão que agora é fitness...
Não se olha mais no olho dos amigos em uma conversa, se olha pra tela do celular. Sim, os encontros reais são cada vez mais virtuais.

Fotos com amigos não são mais tiradas para marcar um momento divertido ou importante. Agora, são tiradas para receberem trocas de likes, elogios e sei lá mais o que.
Não se abraça mais ninguém como antigamente. Não se troca mais ideia como antes, não se fazem mais rodinhas pra tocar viola, não se descansa como antes. Ah, e até as comidas de aniversário foram gourmetizadas... Agora tem cachorro quente e coxinha "elitizada" que leva até salmão...
E as pessoas? A cada dia estão mais gourmetizadas e glamourizadas, tudo é recalque, tudo é inveja, tudo é fama, dá fama e leva a fama.
Fama essa que se não tomar cuidado vai da mesma forma que veio.
"- Mas Luisa, você não quer que ser famosa? "
Não, não quero! O que eu desejo é que meu trabalho seja reconhecido. Que ele alcance pessoas que precisam rir, se distrair, aprender algo ou sei lá o que.
Não quero ser gourmet, não quero olhar pras pessoas como se elas fossem menos do que eu, não quero "sambar" na cara de ninguém (embora eu use essa expressão, brincando com as "zamigas"), não quero me achar o último pacote de biscoito no mercado, não quero que me tratem como uma semi-deusa. Quero sim que admirem meu trabalho.
Mas não quero ser glamourizada ao ponto de ser tratada como um ser inalcançável. Ninguém é melhor do que ninguém, ninguém é mais gourmet do que ninguém. Somos todos humanos, iguais, feitos de carne e osso.